segunda-feira, 27 de julho de 2009

“Here, the pictures say, this is what people look like. Sometimes beautiful, sometimes tragic, sometimes kind of gross”

A frase acima é de Jurgen Teller numa entrevista dada à NY MAG em 2008, disponível aqui.

O trabalho de Jurgen no campo da moda recebeu importante inspiração de Venetia Scott, estilista (e também fotógrafa) responsável pela imagética que revolucionou a fotografia de moda nos anos 90, através do look actualmente reconhecido como heroín chic. Caminhando no sentido inverso da convencional fotografia de moda, em que a ilusão e o universo fabricado de perfeição povoam os retratos, Venetia aspirava uma moda democrática e ideossincrática (ainda que moda e ideossincracia pareçam, quando colocados na mesma frase, um contracenso). Nas suas produções reinava uma ambiência algo acidental, em que os coordenados (acessíveis aos bolsos de todos) pareciam ser combinados arbitrariamente e as modelos captadas no âmago da transparência matinal.

fotografia por Jurgen Teller

Esta busca por uma fotografia de moda em que o ideal é a imperfeição do realismo foi o elo de ligação entre ambos, cujo desejo era comunicar uma forma de estar na moda que não se assumia no centro das tendências.

No seu trabalho Jurgen recusa a ilusão da edição de imagem e a busca da perfeição nos corpos. Mais ainda, as suas fotos contrastam com as demais no campo da moda pelo enquadramento dos modelos num contexto ao qual tende a atribuir maior peso na imagem do que ao sujeito, as cores não são vibrantes e apelativas, sendo antes algo melancólicas e pálidas, a expressão das modelos não se aproxima do habitual glamour e posição inatingível habitualmente encenada, oscilando antes entre uma felicidade expontânea e uma distância contida, em que o observador é colocado numa posição voyeurista em detrimento de espectador . Contudo, de alguma forma as indumentárias, não sendo centrais na narrativa visual, são uma peça fulcral das imagens, que não ilustram simplesmente um momento fugaz.

Fotografias por Jurgen Teller

Esta série de 1997 publicada na revista Dazed & Confused (disponível nesta comunidade dedicada ao fotógrafo) permite ter uma leitura correcta do trabalho, muitas vezes algo autobiográfico segundo uns, narcisista segundo outros, de JurgenTeller.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Projecto Exactitudes

Exactitudes resulta da colaboração entre o fotógrafo Ári Versluis e a profiler Ellie Uyttenbroek, numa tentativa de retratar os códigos de vestuário de diferentes grupos sociais. O presente projecto que decorreu durante quase 15 anos, tendo tido início em 1994, retratou até 1998 a indumentária de sujeitos de Roterdão e, desde o mesmo ano até 2008, extendeu-se a outras diferentes cidades do mundo.



Como é referido pelos autores, as posições e contextos similares em que os sujeitos são colocados permitem uma análise quase antropológica do vestuário, mas também psicossociológica na medida em que consegue uma exposição asséptica da noção de identidade social e do modo como esta é legitimada por intermédio do vestuário, em suma a dimensão de self material na noção de auto conceito. No entanto, esta mesma disposição permite uma análise simultânea da diversidade individual, sinónimo da procura do ser humano pela unicidade uma vez legitimado no seio de um grupo social.

Para conhecer melhor em exactitudes.nl

segunda-feira, 23 de março de 2009

Guy Bourdin

Há fotógrafos que nos fazem sentir pequenos, muito pequenos... microscópicos. Guy Bourdin é um dos que me faz sentir do tamanho de uma nanopartícula.

fotografia por Guy Bourdin

A sua carreira teve início nos anos 50 mas foi sobretudo nos anos 70 que Guy Bourdin deixou marcas do seu talento na fotografia de moda de uma forma, no mínimo, inspiradora... e ainda assim, dito de forma tão banal, a palavra parece pequena.

Na era pré-photoshop foi mestre na montagem e edição de imagem. Distorção, sobreposição, abordagem de ângulos não convencionais foram alguns dos seus "instrumentos de trabalho", articulados numa visão ideossincrática que definiu uma estética não vigente no seio do mercado da moda, meio onde convencionalmente as tendências ditam regras. Quebrou regras e acrescentou complexidade à imagem fotográfica num campo tradicionalmente demarcado por imagens de leitura imediata.

fotografias por Guy Bourdin

fotografia por Guy Bourdin

É-lhe apontada a influência da corrente surrealista, nomeadamente de Magritte e e Balthus, bem como o trabalho do fotógrafo Man Ray (seu mentor) e do realizador Luis Buñuel, bem verdade aliás como se constata em muitas das imagens. Mas a verdadeira essência do seu trabalho é, paradoxalmente, uma leitura pessoal extremamente realista de temas como a moda ou a beleza e a minúcia com que transforma os detalhes por vezes corriqueiros no centro das suas imagens, tornando-as centrais e verdadeiras obras dignas de contemplação, dentro e fora da imagem.

fotografia por Guy Bourdin

Pouco ortodoxo, dentro e fora do plano de registo de imagens, recusou mesmo em 1985 o grande prémio nacional de fotografia atribuído pelo ministério da cultura francês, bem como várias propostas de exposições e edição de livros, tendo mesmo o desejo de que o seu trabalho fosse destruído após a sua morte (tendo grande parte do mesmo subsistido até aos dias de hoje por ter sido mantido por terceiros).


fotografia por Guy Bourdin

Guy Bourdin morreu em Março de 1991 e, com 62 anos, deixou um legado digno de ser visto e revisto, nomeadamente em guybourdin.org/

domingo, 15 de março de 2009

Nicolai Howalt

Nicolai Howalt é um fotógrafo dinamarquês claramente ligado ao documentalismo fotográfico, com projectos extremamente interessantes quer do ponto de vista puramente documental quer estético. O seu projecto mais recente intitula-se Car Crash Studies e regista imagens de fragmentos de veículos acidentados, quer perspectivados do seu interior quer do exterior, apresentando-nos uma visão pouco convencional deste tipo de fatalidades, sendo capaz de encontrar beleza nos resquícios que daí provêm. A própria instalação da exposição que apresenta este projecto ao público é em si merecedora de particular atenção.

Crash Studies (Imagem #2 do projecto e imagem da Instalação)

No site de Nicolai é possível analisar tantos outros projectos dignos de interesse, como 3x1 (um projecto em que acompanhou uma família vivendo nos subúrbios da Dinamarca) how to hunt (que aborda a temática da caça em paralelo com a imagética da paisagem natural), etc.

Do projecto 3x1 por Nicolai Howalt

KROMANNS REMISE I, Projecto How to Hunt por Nicolai Howalt

Aliás, como é costume dizer "Great minds think alike", a prová-lo está a semelhança entre o seu projecto Boxer de 2003 e o projecto At the Fights: Boxers before and after the bout de Howard Schatz que arrecadou em 2009 o 2º lugar na categoria histórias do World Press Photo, aproximando-se na abordagem e conceito fotográfico e divergindo no idade e fisionomia dos sujeitos retratados.

Boxer # 8, Projecto Boxer por Nicolai Howalt

Boxer # 19 , Projecto Boxer por Nicolai Howalt

Para conhecer melhor em nicolaihowalt.com

Matt Stuart

Escusado será dizer que Matt Stuart é um Street Photographer. Escusado seria até dizer mais do que isto, que deambula nas ruas com a sua leica passando despercebido entre os demais, registando as singularidades que só ele consegue captar de forma assombrosa, que na verdade operam como instantâneos da vida quotidiana.

Exemplos de imagens de autor de Matt Suart
Com algo da abordagem surrealista em muitas das suas fotografias, inclui algo de sarcástico e frequentemente quase humorístico nas imagens que produz, inclusivamente nos seus trabalhos comerciais que, mesmo por vezes saindo fora do registo habitual, não deixam de surpreender.

Exemplos de imagens comerciais de Matt Stuart

Para ver em detalhe em mattstuart.com

sábado, 14 de março de 2009

Simon Hoegsberg

Simon Hoegsberg é um fotógrafo dinamarquês com uma saliente veia de reporter, que o leva muitas vezes a ir para lá da captação de imagens. Com a curiosidade que motiva o seu registo fotográfico, aborda os modelos em muitos dos seus projectos fotográficos conseguindo o detalhe descritivo que complementa ainda mais as suas imagens, permitindo-nos avançar um pouco mais em cada história. É o caso de 2 dos seus projectos em particular "Faces of New York" e "The Thought Project".

Em Faces of new york, motivado pela curiosidade que a imagem exterior dos transeuntes muita das vezes lhe despoleta, dispendeu 7 horas por dia no decurso de um mês a detectar sujeitos com imagens apelativas inquiriindo-os seguidamente sobre o que os mesmos achavam do seu rosto, possivelmente numa tentativa de aferir a congruência das auto-avaliações com a hetero-avaliação do próprio.

Faces of New York por Simon Hoegsberg


Já em The Thought project, o foco centrou-se mais no interior e menos no interior de cada sujeito, sendo o alvo da pesquisa os pensamentos que nos acompanham enquanto calcorreamos as ruas. As fotografias geradas neste projecto resultaram de um trabalho de 3 meses em que o fotógrafo abordou 150 transeuntes, registando as suas citações sobre o que pensavam no exacto momento prévio a serem abordados por Simon.

The Thought Project por Simon Hoegsberg

Um olhar mais demorado pelo website de Simon Hoegsberg faz-nos descobrir mais e mais deste autor, nomeadamente o seu mais recente projecto divulgado: We are all gonna die - 100 meters of existence, consubstanciando uma imagem de 100 metros de comprimento por 78 cm de altura, contendo 178 sujeitos fotografados numa mesma estação de comboios ao longo de 20 dias.

We are all gonna die - 100 meters of existence por Simon Hoegsberg

Para conhecer em simonhoegsberg.com/

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Chris Jordan

É sabido que a principal característica da arte contemporânea é o facto de ser representativa do seu tempo, de expressar esteticamente os principais temas da cultura vigente. A propósito desse intuito, é natural que muitas das temáticas dos artistas plásticos contemporâneos se centrem na questão do consumo, como é aliás uma realidade.

Ultimamente tenho encontrado alguns bons exemplos de como a arte contemporânea não só documenta como veicula uma mensagem de preocupação face ao excesso no consumo desde os mais recentes anos até à idade adulta. Um deles é
Chris Jordan, um fotógrafo americano claramente influenciado pela técnica pontilhista do movimento impressionista.
Chris Jordan constrói imagens de grandes dimensões compostas por milhares de outras pequenas imagens (usualmente material de desperdício, mas não só), com o intuito de documentar visualmente o consumo de uma quantidade específica, nomeadamente de determinado bem ou serviço.

"Plastic Bags 2007" Da série "Running the Numbers - An American Self-Portrait" por Chris Jordan
(Retratando o uso de 60.000 sacos de plástico a cada 5 minutos nos E.U.A)

(vista aproximada de uma fracção da imagem acima)

Resolvi colocar apenas um exemplo pois a redução das imagens aqui no blog não faz juz ao impacto que as mesmas têm no website, nem certamente o que terão ao vivo. Assim sendo, abaixo fica o link para que seja possível uma percepção mais aproximada da realidade das obras. Mais imagens desta e outras séries/projectos que valem a pena ser vistos em chrisjordan.com